quarta-feira, 25 de abril de 2012

25 de Abril, Dia da Liberdade "O dia inicial inteiro e limpo"

(Para o Dinis,agora que já sabe ler)

Conto-te daquela madrugada em que os corações dos portugueses se alvoroçaram.
Nascia “O dia inicial inteiro e limpo/ Onde emergimos da noite e do silêncio…” como o celebrou Sophia de Mello Breyner num dos seus belos poemas.
Sim, vivíamos num enclausurado silêncio, numa longa noite que se arrastava por mais de 48 anos e que se entrecortava com uma guerra colonial que devastava pela morte, pela mutilação e pela doença vastos milhares de jovens portugueses, mas também muitos milhares de jovens guerrilheiros e simples cidadãos africanos.
Obviamente, Portugal sangrava em África os recursos humanos e financeiros. Por outras palavras, vivíamos num país esmagado pela fome e pela mais pesada miséria.
Claro, não havia liberdade de opinião, nem liberdade de imprensa, nem liberdade de reunião, de manifestação ou de greve.
O regime assentava num partido único e no poder ilimitado da polícia política.
Mas, também te digo, houve sempre muita gente que se empenhou na luta contra a opressão, democratas, operários, camponeses, estudantes, mulheres, enfim, uma grossa corrente de opinião que, por isso, penou nas prisões políticas ou até sucumbiu às balas ou aos maus tratos dos esbirros do fascismo.
A Marinha Grande sabe disso muito bem porque muitos dos seus filhos o sentiram…
Até que um punhado de indómitos e jovens capitães ousou levar de vencida a ditadura e interpretar os mais lídimos sentimentos de um povo, que os saudou e motivou, naquela madrugada de 25 de Abril de 1974.
“Esta é a madrugada que eu esperava…”disse Sophia. Falava por todos os portugueses!

Osvaldo Castro

(excerto adaptado das minhas primeiras palavras na Sessão Solene do 25 de Abril de 2008, na Assembleia da República)

1 comentário:

folha seca disse...

Caro Osvaldo
Para além de ter ouvido esta intervenção na altura, já a li outras vezes e é sempre com emoção que o faço.
Gostei de ter partilhado contigo a noite de ontem.
Um grande abraço
Rodrigo